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@ Diário da Ari
2025-04-13 21:33:54Quando peguei Confissões de Santo Agostinho pela primeira vez, confesso que me senti perdida. As palavras pareciam densas, distantes, como se eu tentasse escalar uma montanha sem saber por onde começar.
Buscava apenas a história de sua conversão ao cristianismo, mas o que encontrei uma profundidade teológica e filosófica que naquele momento não conseguia alcançar. Frustrada, deixei de lado a leitura.
Hoje, com um amadurecimento interior maior e contando com o auxílio da Inteligência Artificial como ferramenta de estudo e reflexão, reencontrei essa obra com um novo olhar. Sem pressa, busquei agora mergulhar na essência de cada página, tentando captar o máximo do pensamento de Agostinho — não apenas como filósofo, mas como homem profundamente transformado pela fé.
Antes da leitura: como começar
Se você nunca leu Confissões, ou se, como eu, já tentou e parou, quero te convidar a olhar para este livro com novos olhos.
Imagine Santo Agostinho sentado diante de você, não como um doutor da Igreja, mas como um amigo que abre o coração em oração. Ele escreve no final do século IV, já imerso na fé cristã, mas com a humildade de quem sabe que nunca compreenderá plenamente o mistério de Deus. Suas palavras são um diálogo íntimo com o Criador, uma oração que pulsa com fé, dúvida e amor.
E é nesse espírito que você deve lê a obra que o guiará em quatro grandes reflexões no primeiro capítulo:
- Quem é Deus?
- Quem somos nós?
- Qual é a nossa missão?
- E como conhecê-Lo?
Quem é Deus?
Agostinho começa com uma exclamação que ecoa até hoje:
“Grande és, Senhor, e infinitamente digno de Louvor!”.
Ele tenta descrever Deus, mas logo percebe que nenhuma palavra é suficiente.
Deus é imenso, incomensurável, eterno. É como se Agostinho, com os olhos da fé, tentasse abarcar o infinito com mãos humanas – e nos convidasse a fazer o mesmo.
Para ele, Deus está tão acima de nós que nossa mente limitada jamais poderia julgá-lo ou defini-lo. Mas, ao mesmo tempo, esse Deus grandioso se revela e nos escuta. Não é inacreditável pensar que o Criador de tudo deseja estar perto de nós, criaturas tão pequenas como nós?
Mergulhando neste profundo pensamento, vejo o quanto somos pretensiosos ao querer entender as escolhas de Deus e os acontecimentos da Bíblia, como se pudéssemos ter a ótica de Deus.
Muitas vezes não temos consciência dos tão pequenos somos em comparação ao Criador, tal ato é incoerente com tamanha distância.
Quem somos nós?
Se Deus é infinito, Agostinho nos lembra que somos apenas uma “ínfima fração” de Sua criação. Marcados pelo pecado original, carregamos em nós a fragilidade, mas também uma chama divina: a sede de Deus.
Ele escreve que, mesmo sem saber, nosso coração anseia por louvar o Criador. Não é fascinante? Pense nas tantas culturas e povos que, ao longo da história, buscaram um sentido maior, um “algo” além de si mesmos.
Para Agostinho, essa busca não nasce de nós, mas é um presente de Deus, que coloca em nosso coração o desejo de encontrá-lo. Essa ideia me tocou profundamente.
Quantas vezes nos sentimos inquietos, procurando algo que nem sabemos nomear? Agostinho nos diz que essa inquietude é, na verdade, o chamado de Deus, nos puxando para Ele.
Qual é a missão da humanidade?
“Tu nos fizeste para Ti, Senhor, e nosso coração está inquieto enquanto não repousa em Ti.”
Essa frase, uma das mais famosas de Confissões, resume a missão que Agostinho enxerga para nós: viver para Deus, amá-lo com todo o nosso ser.
Mas ele nos alerta: esse amor não é uma corrente que nos prende, mas uma escolha livre. É um relacionamento íntimo, único, que não deve ser imposto aos outros. Aqui, Agostinho me fez refletir sobre como compartilho minha fé.
Falar do amor de Deus é importante, mas nunca deve ser uma arma para julgar ou condenar. Afinal, só Deus conhece o coração de cada um.
Nossa missão é amar e testemunhar, deixando que o Espírito Santo faça o resto.
Conhecer ou invocar: o que vem primeiro?
Por fim, Agostinho se depara com um dilema que talvez você já tenha sentido: como posso invocar a Deus se ainda não o conheço? E como posso conhecê-lo se não o invocar?
A Igreja Católica reconhece que, para orar, precisamos de uma revelação divina – foi Deus quem primeiro veio até nós, mostrando-se através da criação, das Escrituras e, acima de tudo, de Jesus Cristo. Mas Agostinho também destaca o papel de quem nos apresenta a Boa Nova.
Na vida dele, foi Santo Ambrósio quem o guiou; na nossa, pode ser um padre, um amigo, uma comunidade. Essa reflexão me lembrou da importância da Igreja e dos irmãos de fé. Sozinhos, podemos nos perder em dúvidas ou confusões. Mas, com a ajuda de quem já trilhou o caminho, nossa oração ganha força e direção.
Fica aqui um convite à essa jornada para ler o primeiro capítulo de Confissões que é como abrir uma porta para dentro de si mesmo. Santo Agostinho não oferece respostas prontas, mas perguntas que nos aproximam de Deus: Quem Ele é para você? O que te impede de repousar n’Ele? Como você responde ao Seu chamado?
Se você quer mergulhar nessa obra, minha dica é: leia com o espírito de Santo Agostinho, ou seja, em oração e clemência para que as palavras atinjam a alma e as portas da clareza e compreensão sejam abertas.
Deixe que as palavras de Agostinho te guiem, não para entender tudo de uma vez, mas para sentir a presença de Deus um pouco mais perto e tenha paciência as vezes ainda não é o momento de ler.
E você, já leu Confissões? Como a história de Agostinho te inspira na sua fé? Conta aqui nos comentários – vamos caminhar juntos nessa jornada!