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@ Girino Vey!
2025-03-09 00:02:24
Quando passei no concurso, bateu aquele dilema: estaria trabalhando para o inimigo, né? Aí fui conversar com um amigo meu, que na época era o mais próximo de um libertário que eu conhecia (isso foi bem antes do Bitcoin existir). Ele me disse algo que fez muito sentido:
> "Se você desistir da vaga, ela não vai sumir. O segundo colocado vai ser chamado. Você sabe se ele vai se esforçar para fazer a coisa certa tanto quanto você? Quem você prefere nessa posição: você ou um desconhecido?"
No fim das contas, é uma questão de oportunidade. Se eu assumisse, poderia tentar minimizar o prejuízo para o pagador de impostos. Se deixasse pra lá, poderia acabar entregando o cargo para alguém que nem se importaria com isso.
Claro, eu sempre poderia simplesmente não prestar o concurso. Mas a vaga ia continuar existindo e outra pessoa ia entrar no meu lugar.
No meu caso, a coisa era ainda mais complicada. Em Brasília, na área de TI, não tem muita opção de "iniciativa privada". De um jeito ou de outro, você acaba trabalhando para o governo — ou como concursado ou como terceirizado. Se for terceirizado, além de ganhar menos e ser tratado como "cidadão de segunda classe", o custo pro Estado é o mesmo, só que com um intermediário ganhando um dinheiro fácil por "agenciar" os contratados. Se eu realmente quisesse não trabalhar pro governo, a única opção era mudar de cidade.
E aí lembrei dos colegas socialistas da minha mãe, que entraram para o serviço público com a ideia de "destruir o sistema por dentro". No fim das contas, eu meio que faço o mesmo na ideologia oposta: toda vez que impeço um deputado de fazer falcatrua ou ocupo um cargo que poderia estar nas mãos de um laranja envolvido em rachadinha, estou contribuindo para um sistema melhor.
No mundo real, as coisas não são preto no branco. Tudo tem tons de cinza e precisa ser analisado caso a caso. Seguir uma ideologia ao pé da letra nem sempre é o que mais te beneficia, e às vezes nem é o que mais beneficia a própria ideologia. Às vezes, estar dentro do sistema te dá mais poder para mudar as coisas do que ficar de fora apontando o dedo. No fim, a vida não é sobre seguir dogmas cegamente, mas sobre tomar as melhores decisões com o que a realidade te apresenta.