
@ TAnOTaTU
2025-03-04 16:18:06
**Análise Marxista de Barack Obama: Entre a Representação Simbólica e a Manutenção da Estrutura Capitalista**
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### **1. Contexto Histórico e Ascensão como Fenômeno Ideológico**
Barack Obama, primeiro presidente negro dos EUA (2009–2017), surge em um contexto de crise do capitalismo neoliberal (2008) e demandas por **mudança** após os desastres das guerras no Iraque e Afeganistão e o colapso financeiro. Sua eleição foi celebrada como um símbolo de **progresso racial** e "esperança", mas, sob uma ótica marxista, reflete a **cooptação das lutas por igualdade racial pelo sistema capitalista**.
- **Ideologia liberal**: Obama encarnou a narrativa do "sonho americano", onde meritocracia e mobilidade individual mascaram as estruturas de classe e raça.
- **Fetiche da representatividade**: Sua ascensão, como escreveu **Slavoj Žižek**, foi uma "falsa consciência" que desviou atenção das contradições do capitalismo, vendendo a ilusão de que o sistema é capaz de reforma interna.
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### **2. Políticas Domésticas: Reformismo Dentro da Ordem Capitalista**
Apesar do discurso progressista, as políticas de Obama foram **reformistas** e não estruturais, mantendo o poder da burguesia:
- **Resposta à crise de 2008**: O **TARP** (resgate bancário) e o **estímulo fiscal** salvaram o setor financeiro, mas não puniram os responsáveis pela crise, nem alteraram a dinâmica de acumulação especulativa. Para Marx, isso exemplifica como o Estado capitalista age como "comitê de gestão da burguesia" (*O Manifesto Comunista*).
- **Obamacare (ACA)**: Expandiu o acesso à saúde, mas manteve o sistema privado de seguros, beneficiando corporações farmacêuticas e hospitais. A reforma não desafiou a mercantilização da saúde, reforçando a crítica de **Vicente Navarro** sobre o neoliberalismo na saúde.
- **Precarização do trabalho**: Durante seu mandato, o crescimento do **precariado** (trabalho temporário, *gig economy*) continuou, com salários estagnados e sindicatos enfraquecidos.
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### **3. Política Externa: Imperialismo Humanitário e Neocolonialismo**
A gestão Obama manteve a **hegemonia imperialista dos EUA**, mas com nova retórica:
- **Guerra ao Terror 2.0**: Ampliou o uso de **drones** e intervenções na Líbia (2011), matando civis e destabilizando regiões, mas sob o discurso de "direitos humanos". Isso reflete a tese de **Edward Said** sobre o **orientalismo liberal**, onde a violência imperial é vendida como "civilizatória".
- **Acordos de Livre Comércio**: O **TPP** (Parceria Transpacífico) visava consolidar a dominação econômica dos EUA na Ásia, reproduzindo a **divisão internacional do trabalho** crítica por **Samir Amin**.
- **Continuidade do militarismo**: O orçamento militar permaneceu alto, financiando guerras que beneficiam o complexo industrial-militar (criticado por **Eisenhower** e analisado por **Chalmers Johnson**).
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### **4. Raça, Classe e Interseccionalidade**
Obama personifica a **interseccionalidade entre raça e classe** no capitalismo estadunidense:
- **Racialização do consenso**: Sua eleição foi usada para legitimar o sistema, sugerindo que o racismo estrutural havia sido superado. Contudo, o **genocídio negro** (mortes por polícia, encarceramento em massa) e a desigualdade econômica racial persistiram.
- **Elite negra e capital**: Obama, formado em Harvard e vinculado ao sistema financeiro (ex.: Goldman Sachs), representa a **burguesia negra** que se integrou ao poder sem desafiar a exploração de classe. Como disse **Adolph Reed Jr.**, ele encarna o "neoliberalismo com rosto negro".
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### **5. Crítica à Ideologia "Pós-Racial"**
A narrativa de um EUA "pós-racial" sob Obama esconde a **centralidade do racismo ao capitalismo americano**:
- **Racialização da crise**: A repressão a protestos como **Black Lives Matter** (surgido em 2013) durante seu mandato expõe a continuidade do Estado racista.
- **Apropriação simbólica**: A imagem de Obama foi usada para desmobilizar movimentos sociais, transformando demandas coletivas em celebração individual.
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### **6. Legado: Entre a Ilusão Reformista e a Continuidade do Sistema**
Obama deixou um legado contraditório:
- **Progresso simbólico**: Abriu espaço para debates sobre representatividade, mas sem alterar as estruturas materiais de opressão.
- **Fortalecimento do neoliberalismo**: Suas políticas consolidaram a financeirização da economia e a precarização laboral, preparando o terreno para o surgimento de figuras como Trump e o ressurgimento do socialismo democrático (ex.: Bernie Sanders).
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### **Conclusão: Obama como Produto e Reprodutor do Capitalismo**
Barack Obama não foi um agente de transformação radical, mas um **administrador do capitalismo global**, usando sua identidade racial para legitimar reformas superficiais. Sua presidência ilustra a **crítica marxista à ilusão reformista**: mudanças cosméticas mantêm o sistema intacto, cooptando a resistência. Para Marx, a emancipação real exigiria a **superação das relações de classe**, não a ascensão de indivíduos simbólicos. Obama, nesse sentido, foi tanto um símbolo de "progresso" quanto um obstáculo à ruptura revolucionária.
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**Resumo Dialético:**
- **Base material**: Manutenção do capitalismo financeiro, imperialismo e racismo estrutural.
- **Superestrutura**: Ideologia do "pós-racial", meritocracia e reformismo.
- **Luta de classes**: Coopção das demandas por justiça racial e econômica pelo Estado burguês.
- **Legado**: Ilusão de mudança vs. reprodução da desigualdade global.
Obama exemplifica como o capitalismo absorve símbolos de resistência para perpetuar-se, confirmando a máxima marxista: *"O executivo do Estado moderno é apenas um comitê que administra os negócios comuns da classe burguesa"* (*O Manifesto Comunista*).