-
@ Ronald Robson
2024-09-26 11:14:34Quem sabe – quem sabe! – você se interesse em saber como andam as minhas pesquisas sobre o “projeto humanista” em “A alegoria do mundo: o mago, o filólogo e o colonizador”, módulo atual de Convivium – Seminário Permanente de Humanidades.
Na semana passada fiz uma transmissão de áudio no grupo do Telegram dos participantes. Entre outros temas abordados, pude falar da interpretação que Edgar Wind faz do quadro “Primavera”, de Botticelli, como uma explicitação do tipo de alegoria platonizante que dominaria a mente de humanistas da Renascença.
https://image.nostr.build/6e1ee79986d3d4c929609fdf037a3e1e6ee399559fb7e2b5d8c02ad0b9b188ad.jpg
A alegoria é o modo mental, defende E. H. Gombrich, pelo qual uma tese é proposta antes que as causas e analogias que a embasam sejam estabelecidas, de modo que o processo associativo irá apenas justificar a posteriori o que se quis desde logo comunicar. Imagine George Orwell postado às suas costas enquanto você lê 1984. A todo momento, ele irá cutucar o seu ombro e dizer: “Está vendo? Aqui está o que eu quis dizer com a fala desse personagem nesse trecho”. O texto é apenas pretexto para uma mensagem, e é a mensagem que se ergue com claro perfil discursivo diante do leitor. A ficção começa a ceder espaço para o palanque.
Defendo que a alegoria é a mãe das mitologias abstratas, do romance de tese e da experiência de avatar que caracteriza o mundo digital. E seus princípios de analogia arbitrária, que datam do fim da Idade Média, ganham exemplificação máxima nas obras Da magia e Dos vínculos, de Giordano Bruno, que discutirei numa aula ao vivo hoje (26), às 20h30. Na atuação de Bruno se nota como a magia foi cada vez mais percebida de maneira imaterial, abstrata, psicologizante (e dessa sua concepção nos vêm os primeiros prenúncios do inconsciente), ao mesmo tempo que sua primeira ocupação com o mundo material foi aos poucos transferida para as ciências que tendiam a ignorar o elemento humano que manipula esse mesmo mundo material.
Se por um lado, portanto, começa a triunfar uma cosmovisão que supõe um ser humano quase sobrenatural em seus poderes psíquicos (segundo a nova ideia de magia como manipulação da memória), por outro lado começa a se difundir uma cosmovisão que supõe um mundo subtraído de todo elemento humano, uma espécie de cosmos impessoal, aquele que hoje se encontra nos livros de física. Penso que essa como que esquizofrenia reflete a dinâmica de exaltação e depressão do erudito que comentei durante a leitura do Fausto de Goethe realizada no primeiro módulo de Convivium: o herói do poema ora se sente um deus ora se sente um verme, tal como hoje é muito comum nos sentirmos.
Na aula de hoje irei lidar com aquele primeiro aspecto da analogia como arma de um ego entronado, ao passo que na primeira semana de outubro irei disponibilizar aos alunos o texto “Máquina e segredo”, acompanhado de vídeo com comentários complementares. Nesse escrito tratarei, por exemplo, de como os inventos de Giambattista della Porta (1535-1615), especialmente na área da criptografia, assinalam não só um novo estágio na história da tecnologia, como também um novo estágio da disposição dos estudiosos para com o conhecimento, uma disposição típica do que venho chamando de “nova aposta de Pascal”, conceito que terei a oportunidade de rever.
“Máquina e segredo” será o primeiro excerto que colocarei em discussão do ensaio O destino do humanismo, que talvez acabe recebendo o título de A alegoria do mundo, como o atual e terceiro módulo de Convivium; a ver.
Para comemorar este momento importante das pesquisas que venho fazendo a respeito do “projeto humanista” (iniciadas em 2020, privadamente, e continuadas algo publicamente a partir de 2022), resolvi dar 25% de desconto na inscrição de Convivium para quem optar por pagar em bitcoin. Algumas pessoas já chegaram a Convivium por meio do Nostr, e é minha intenção trazer ainda mais gente. Em vez de pagar R$ 449, pague agora R$ 336,75 para ter acesso a:
- O destino do humanismo: uma leitura do Fausto de Goethe, com 12 aulas, materiais complementares e aulas bônus (mais de 20 horas de vídeo);
- Os livros da vida: Abelardo, Dante, Cardano, Santa Teresa, com mais 12 aulas, textos e materiais auxiliares (mais de 20 horas de vídeo idem);
- A alegoria do mundo: o mago, o filólogo e o colonizador, módulo em andamento e com aulas mensais até abril de 2025. Até o momento tivemos 4 aulas ao vivo, 3 vídeos pré-gravados e 3 transmissões de áudio, além de comentários esparsos pelo grupo do Telegram.
Caso queira se inscrever pagando em bitcoin, mande-me uma mensagem privada ou e-mail para camoensiii57@protonmail.com