-
@ Tiago G
2025-05-20 14:07:47Recentemente tive conhecimento do mais recente flagelo cuja popularidade espelha bem o estado avançado de degeneração da nossa sociedade, o bebé reborn. Há uns anos certamente não passaria de uma piada de mau gosto quando alguém nos dissesse que decidiu adquirir um boneco para criar como se se tratasse de um filho, infelizmente em 2025 deixou de ser uma piada para se tornar algo assombroso.
Depois de fazer alguma pesquisa sobre o tema percebi que há pessoas que têm em curso processos litigantes judiciais relativos à, note-se com pasmo, guarda da boneca. A insanidade não fica por aqui uma vez que, algumas "mães" procuram atendimento médico para os seus bonecos. No Brasil, a câmara dos deputados recebeu três projetos destinados à criação de políticas públicas relacionadas com estes bonecos. As notícias sobre este fenómeno surreal multiplicam-se à medida que a insanidade se alastra como vírus pelas redes sociais.
Vivemos numa sociedade que há muito se divorciou da realidade, uma sociedade de pós-verdade, por isso de alguma forma não choca que este tipo de coisa possa acontecer. Podemos dizer que de alguma forma existe um primado do sentimento face à razão, preferimos, por vezes com consequências catastróficas, uma mentira "empática" do que uma verdade salvífica. Esta nossa tibieza em afirmar a verdade leva-nos consequentemente a uma crendice insustentável que é esta de, cada um tem a sua verdade. Graças a essa filosofia permitimos que um certo discurso lunático tenha mais alcance no espaço público. Por vezes ingenuamente podemos pensar que se trata de algo inofensivo, sem consequências de maior, contudo a experiência mostra-nos precisamente o contrário. Há por detrás destes fenómenos uma índole corrosiva que funciona como aguilhão para a disseminação das agendas políticas e ideológicas que visam a destruição da família. Considerando a excecional vulnerabilidade psíquica que observamos em cada vez mais pessoas neste tempo e a ampla disseminação destes fenómenos temos razão mais que suficientes para estarmos preocupados.
Uma outra elação que podemos retirar é que a nossa sociedade com as alegadas gerações "mais bem preparadas de sempre" está claramente a produzir um excesso de adultos que se comporta e, a todos os títulos são, crianças funcionais.
Com tudo isto fica cada vez mais difícil viver uma vida harmoniosa com a lei natural, pois vivemos em harmonia com algo considerado opressor pelos apologetas destes produtos do marxismo cultural. Com a pretensa igualdade que se pretende alcançar, equiparando inclusive um boneco a uma bebé, as famílias no sentido próprio do termo ficam em segundo plano relativamente a estes "novos" e esotéricos conceitos de família.
Importa perguntar, no meio de todas essas novas formas de se pensar uma família, qual é o ideal ?
Provavelmente os apologetas destas bizarrices ficarão em silêncio uma vez que coerentemente consideram que todas as formas são iguais e válidas.
Isto é apenas mais um sinal que nos é dado do declínio palpável dos valores que construíram a nossa sociedade e civilização. Façamos algo para que estas nocivas ideologias não entrem no nosso coração e em nossas casas, sob pena da corrupção dos nossos princípios e dos daqueles que nos são queridos. Estes fenómenos são de tal forma doentios que nos levam a crer que vivemos numa época tragicómica, o que me fez lembrar de uma história contada por Kierkgaard e que partilho de seguida.
“Certa vez, houve um incêndio num circo ambulante na Dinamarca. O director mandou imediatamente o palhaço, que já se encontrava vestido e maquilhado a preceito, para a vila mais próxima, à procura de ajuda, advertindo-o de que existia o perigo de o fogo se espalhar pelos campos ceifados e ressequidos, com risco iminente para as casas do próprio povoado. O palhaço correu até à vila e pediu aos moradores que viessem ajudar a apagar o incêndio que estava a destruir o circo. Mas os habitantes viram nos gritos do palhaço apenas um belo truque de publicidade que visaria levá-los a acorrer em grande número às sessões do circo; aplaudiam e desatavam a rir. Diante dessa reacção, o palhaço sentiu mais vontade de chorar do que de rir. Fez de tudo para convencer as pessoas de que não estava a representar, de que não se tratava de um truque e sim de um apelo da maior seriedade: estava realmente em causa um incêndio. Mas a sua insistência só fazia aumentar os risos; eles achavam que a performance estava excelente – até que o fogo alcançou de facto aquela vila. Aí já foi tarde, e o fogo acabou por destruir não só o circo, mas também a povoação”.
Soren Kierkgaard - Filósofo dinamarquês