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@ Luciano
2025-02-24 18:59:42
Se você acompanhou o noticiário, deve ter visto que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), voltou a investir contra as redes sociais. Na sexta-feira (21), Moraes determinou a suspensão da rede social americana Rumble no Brasil.
De acordo com o ministro, a rede social cometeu "reiterados, conscientes e voluntários descumprimentos das ordens judiciais, além da tentativa de não se submeter ao ordenamento jurídico e Poder Judiciário brasileiros" e que instituiu um "ambiente de total impunidade e 'terra sem lei' nas redes sociais brasileiras".
No entanto, o CEO da Rumble, Chris Pavlovski, afirmou que Moraes exigiu que a Rumble cumprisse decisões que são ilegais segundo a legistação americana e passou um “aviso” ao ministro: “nos vemos no tribunal”.
Não é de hoje que o STF e Moraes são acusados de promover um ambiente de “censura” através de uma suposta perseguição enviesada a perfis que criticam as atuações da corte e do ministro, inclusive exigindo a remoção de perfis por parte dessas redes – algo que contraria a legislação brasileira.
Em 2024, o X chegou a ficar suspenso no Brasil por quase 40 dias, sendo que Moraes chegou a impor multas para quem tentasse acessar a rede via VPN, uma decisão contestada e vista por muitas pessoas como ilegal.
Isso mostra que o poder do estado vai continuar agindo contra as redes sociais com o intuito de estabelecer algum tipo de restrição a essas plataformas. E tal poder tende a funcionar, pois estas plataformas são consideradas empresas e muitas têm representantes legais no Brasil, que são um vetor de ataque para eventuais suspensões.
Felizmente, a criação do Bitcoin (BTC) levou a um avanço na forma como podemos manter nossa privacidade protegida da sanha autoritária dos estados. E isso chegou nas redes sociais com a criação do Nostr. Por isso, o protocolo descentralizado com foco em redes sociais é o tema da nossa newsletter de hoje.
O que é o Nostr?##
A palavra Nostr, que dá nome ao protocolo, é a sigla para Notes and Other Stuff Transmitted by Relays (Notas e Outras Coisas Transmitidas por Relés, em tradução livre). Esse protocolo surgiu em 2020 para criar uma “camada social” na rede do Bitcoin. Ou seja, permitir o desenvolvimento de aplicativos similares a redes sociais.
No entanto, foi a partir de 2023 que o protocolo ganhou fama, a ponto de ficar conhecido como o “Twitter descentralizado”. Esse nome se deveu ao fato de que um dos aplicativos mais populares do Nostr era o Damus, que funciona como uma espécie de X.
A principal diferença do Nostr para outros serviços é que os aplicativos criados pelos protocolos não podem ser censurados. Eles operam baseados em clientes e relés (relays) muito similares aos nós que rodam a rede do Bitcoin. Por isso, não adianta um governo tentar derrubar um nó: se os demais estiverem ativos, a rede seguirá funcionando livre de censura.
Sistema de chaves##
Da mesma forma que no Bitcoin, no Nostr cada usuário é identificado por uma chave pública. E também há uma chave privada, que ele usa para assinar as transações. Mas ao contrário do BTC, as chaves privadas não são formadas por sequência de palavras, mas sim por uma sequência de letras:
chave pública: cada chave pública do Nostr começa com as iniciais “npub”. Ex: npub43tahY4T…
chave privada: já as chaves privadas começam com os caracteres “nsec”. Ex: nsec4T6uyA4F…
Para acessar os aplicativos do Nostr (como o Damus), você só precisa fazer o download e inserir a sua chave privada no app. Ele vai ler a chave e identificar que você de fato controla aquela conta, mas o aplicativo não armazena as chaves. Por isso elas não ficam sujeitas a roubos, mantendo o seu perfil seguro.
Uma vez logado no aplicativo, cada vez que você publica algo (por exemplo, uma mensagem que publica, uma atualização da sua lista de seguidores, etc.), você assina uma transação. Os clientes validam estas assinaturas para garantir que estão corretas.
Hoje, existem mais de 70 aplicativos criados para o Nostr, desde outros “Twitter descentralizados” até serviços de mensagem. E todos eles funcionam de forma integrada, o que significa que a sua chave privada funciona como uma identidade única. Isso permite que você acesse a todos os aplicativos com uma única senha, sem precisar fazer cadastros e deixar seus dados expostos em várias redes sociais.
Esse protocolo foi criado por um brasileiro conhecido como fiatjaf, que preferiu se manter anônimo. O projeto fez tanto sucesso que recebeu um apoio massivo de Jack Dorsey, criador do Twitter, que chegou a doar 14,6 BTC para ajudar no desenvolvimento do Nostr. Hoje, esse valor corresponde a mais de R$ 8 milhões.
Como fazer uma conta no Nostr##
Antes de acessar os aplicativos, você deve criar suas chaves pública e privada no site oficial do Nostr. Basta acessar o [Endereço ]( https://nostr.com) e clicar na opção “create your Nostr account”. E pronto, o site gera as duas chaves automaticamente. A chave pública (npub) fica visível, enquanto a chave privada (nsec) aparece coberta.
Basta clicar nos quadrados do lado esquerdo da chave privada que ele vai copiar automaticamente. Você também pode clicar em “show private key” para ver a chave privada, ou clicar em “download keys” para baixar ambas as chaves.
Cabe frisar que essas chaves, sobretudo a privada, são essenciais para acessar qualquer aplicativo criado no Nostr. Por isso, assim que você salvá-las, guarde essas chaves em um lugar seguro e longe da internet, para evitar roubos. Por isso:
jamais anote sua chave privada num bloco de notas;
escreva a chave privada à mão num papel e guarde com bastante cuidado;
nunca, sob qualquer hipótese, compartilhe sua chave privada em arquivos na nuvem ou por e-mail.
Se você quiser ter ainda mais segurança, pode adquirir o NOSTR Signing Device, dispositivo que serve para assinar publicações com o Nostr e mantém sua chave privada segura. Ele é importado, mas custa apenas 20 euros (cerca de R$ 120) no site da [LNBits.]( https://shop.lnbits.com/product/nostr-signing-device)
Redes sociais à prova de censura##
Bem, agora vamos conferir as duas redes sociais que selecionamos entre os mais de 70 aplicativos do Nostr. Nelas você pode publicar qualquer coisa sem medo de sofrer com censura, bloqueios ou processos indevidos por causa de alguma acusação vaga como “promover discurso de ódio”.
O primeiro dessas aplicativos é o [Primal]( https://nostrapps.com/primal), que é praticamente uma cópia do já citado Damus. Ele também se parece muito com o X e lá você pode publicar, mandar mensagens inbox para outro usuário, curtir, salvar, compartilhar e comentar.
Ao contrário do X, o Primal não impõe limite de caracteres nas publicações e você não tem selos. O aplicativo também possui uma carteira Lightning onde você pode enviar e receber satoshis. E o melhor de tudo, o Primal possui a função “zap”, que permite que você possa enviar e receber satoshis por causa de suas publicações.
Ou seja, se você escrever alguma coisa no Primal e as pessoas gostarem, elas podem te enviar “gorjetas” em satoshis. Isso significa que você consegue monetizar o seu conteúdo sem precisar assinar nenhum plano ou pagar para conseguir um selo. Você também pode enviar satoshis para seus criadores de conteúdo favoritos.
Mas se você gosta de publicar artigos mais longos (como esta newsletter), o Nostr conta com o [YakiHonne]( https://nostrapps.com/yakihonne). Este “Substack descentralizado” permite que você publique notas como o Primal, mas também oferece a possibilidade de criar artigos em formato de newsletter.
Você pode favoritar ou salvar os seus autores preferidos, facilitando a leitura de artigos. E o aplicativo também possui seções de curadoria específica. Com ela, você consegue acessar artigos por tópicos e ver o que está se destacando no YakiHonne naquele momento.
Quer escrever sobre um tema polêmico? Faça seu artigo no YakiHonne sem ter medo de censura ou de ver seu texto desmonetizado. E caso ele faça sucesso, você pode receber satoshis como pagamento e monetizar seu trabalho recebendo em moeda forte.
Infelizmente, os tribunais de censura seguem em crescimento no mundo e a liberdade de expressão em plataformas centralizadas seguirá ameaçada. Afinal, estas empresas visam o lucro e estão sujeitas às leis. E elas dificilmente farão frente ao poder do estado apenas para beneficiar seus usuários.
Por isso, da mesma forma que você pode tirar o estado do seu dinheiro com o Bitcoin, você pode tirar a censura das suas palavras usando o Nostr. Afinal, como diz o personagem Ensei Tankado de “Fortaleza Digital”:
“Todos temos o direito de guardar segredos. Um dia eu farei com que isso volte a ser possível.”
Vale uma olhada##
Matéria completa sobre o lançamento do Nostr no [CriptoFacil;]( https://www.criptofacil.com/nostr-conheca-protocolo-criado-por-brasileiro-que-utiliza-o-bitcoin-para-descentralizar-redes-sociais/)
O canal dos tem um vídeo excelente falando sobre como criar e armazenar suas chaves privadas do Nostr usando o Signing Device. Vale a pena conferir.