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@ reiartur
2025-04-14 20:16:59Num recente podcast, o Miguel Milhão falou sobre o crash nos mercados financeiros. No meio de muita conversa de macroeconomia e mercados financeiros, o convidado deixou alguns pontos interessantes, mas duas ideias ficaram no meu pensamento, infelizmente, ele não aprofundou, mas é algo que eu quero fazer futuramente.
Perda de paridade
A primeira ideia que o convidado apontou foi, a possibilidade da perda de paridade do papel-moeda e a CBDC, eu nunca tinha pensado neste ponto de vista.
Se os governos não conseguirem retirar de circulação todo o papel-moeda rapidamente, se houver circulação em simultâneo com a CBDC, o papel-moeda poderá ter um premium. Isto faz todo o sentido, os governos poderão dar oficialmente o mesmo valor facial, mas como nas CBDCs existirá mais controlo, restrições e monitorização, as pessoas vão preferir o papel-moeda, vão pagar um premium para manter a sua privacidade.
Na prática, será algo similar ao que acontece em alguns países onde existem algumas controlo de capitais, onde o dólar do mercado negro é superior ao dólar oficial. Os comerciantes também poderão fazer descontos superiores nos produtos quando são pagos com papel-moeda.
Isso poderá provocar um descolar do valor, a mesma moeda com valores diferentes, a oficial e do mercado negro. Isso poderá levar os governos a tomar medidas mais autoritárias para eliminar o papel-moeda de circulação.
Não sei se alguma vez acontecerá, mas é algo que eu tenho que refletir e aprofundar esta ideia.
RBU e Controlo
A outra ideia apontada pelo convidado, a CBDC será uma peça fundamental numa sociedade onde a maioria das pessoas sobrevivem com Rendimento Básico Universal (RBU).
Todos sabemos que a CBDC vai servir para os governos monitorar, fiscalizar e controlar os cidadãos. O ponto que eu nunca tinha pensado, é que esta pode ser essencial para a implementação do RBU. Se chegarmos a esse ponto, será o fim da liberdade dos cidadãos, onde o estado controla quando, quanto e onde o cidadão pode gastar o seu dinheiro. O estado irá determinar o valor do RBU e as CBDC vão determinar onde podes gastá-lo.
Penso que já não existem dúvidas que a AI e a robótica vão revolucionar o mundo laboral, vai provocar uma profunda queda nos postos de trabalho, profissões vão desaparecer ou vão reduzir drasticamente o número de funcionários.
Muitas pessoas consideram que a solução é o RBU, mas eu tenho muitas dificuldades em encontrar viabilidade económica e social numa sociedade onde a maioria recebe o RBU.
É a implementação do conceito: não terá nada, mas será feliz.
Será que as máquinas vão conseguir produzir tudo, o que os seres humanos necessitam, a um custo tão baixo, que vai deixar de ser necessário os humanos trabalharem? Tenho muitas dúvidas que essa possibilidade aconteça, se nós humanos não necessitarmos de trabalhar, vai se perder o incentivo para desenvolver novas tecnologias, gerar inovação e de evoluir a sociedade.
Eu já tenho refletido bastante sobre o RBU, mas por mais que pense, não consigo encontrar uma viabilidade económica para manter isto de pé. Onde vão buscar dinheiro para financiar uma percentagem expressiva de pessoas que sobreviverá com o RBU. Eu só olho para isto, como um comunismo com esteróides, talvez esteja errado.
Além dos problemas econômicos, eu acredito que isso vai gerar problemas sociais e de comportamento, vai gerar uma revolta social. Em primeiro lugar, existe uma parte de seres humanos que são ambiciosos, querem mais coisas, que vão lutar e vão conseguir mais. Depois existe outra parte, que é invejosa, quer ter mais, mas não consegue.
Uma sociedade onde quase ninguém trabalha, existindo demasiado tempo livre, vão emergir vícios e conflitos sociais. As pessoas com tempo para pensar reflectir sobre a sua vida e sobre a sociedade, alguns vão delirar, vão questionar tudo. Por isso, a religião desempenha um papel importante na sociedade, cria moralismo através de dogmas, os crentes não questionam, apenas seguem. Por vezes, a ignorância é uma bênção.
Isto faz lembrar-me o porquê das sociedades monogâmicas tornaram-se mais desenvolvidas, em comparação com as poligâmicas. A monogamia trouxe uma paz social à sociedade, existem muito menos conflitos e guerras, há mais harmonia. Milhões de anos de evolução das espécies, nos humanos e alguns animais, a natureza/genética trouxe um equilíbrio no número de nascimento de elementos masculinos e femininos. Mas nas sociedades poligâmicas, normalmente os homens mais ricos têm várias mulheres, consequentemente haveria outros homens que não teriam nenhuma mulher, isso resulta em maior revolta e conflitos sociais. Isto é pura matemática, se existe quase 50/50, de um homem tem 7 mulheres, isto resulta, que 6 homens não terão qualquer mulher. As religiões ao defenderem a monogamia, ao determinar que era pecado ter mais que uma mulher, resultaram em menos conflitos, numa maior paz social. Isso permitiu um maior desenvolvimento de sociedades monogâmicas, do que as poligâmicas.
Acabei por desviar um pouco do assunto. Além disso, o valor do RBU teria que ser elevado, para que permita aos cidadãos ter acesso ao desporto, aos espetáculos, futebol, viajar, para financiar os seus tempos livres. Se eu já acho difícil arranjar dinheiro para financiar a generalidade dos cidadãos, com produtos e serviços básicos, ainda será mais difícil ou impossível, se tiver que financiar os passatempos.
Em vez do RBU, ainda existe a opção do Imposto sobre o Rendimento Negativo (IRN), minimiza um pouco, mas o problema mantém-se. Aconselho a leitura do artigo do Tiago sobre o IRN.
Mas o mais interessante de tudo, os governos vão criar as CBDC para controlar os cidadãos, com a ideia distópica de criar mais paz social, mas eu acredito que resultará no seu inverso.
São duas ideias que eu tenho que aprofundar, futuramente.