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@ Elo Frágil
2025-05-27 18:08:04Muita gente, hoje em dia, acha que a leitura já não é tão necessária quanto foi no passado. O rádio e a televisão acabaram assumindo as funções que outrora pertenciam à mídia impressa, da mesma maneira que a fotografia assumiu as funções que outrora pertenciam à pintura e às artes gráficas. Temos de reconhecer - é verdade - que a televisão cumpre algumas dessas funções muito bem; a comunicação visual dos telejornais, por exemplo, tem impacto enorme. A capacidade do rádio em transmitir informações enquanto estamos ocupados - dirigindo um carro, por exemplo - é algo extraordinário, além de nos poupar muito tempo. No entanto, é necessário questionar se as comunicações modernas realmente aumentam o conhecimento sobre o mundo à nossa volta.
Talvez hoje saibamos mais sobre o mundo do que no passado. Dado que o conhecimento é pré-requisito para o entendimento, trata-se de algo bom. Mas o conhecimento não é um pré-requisito tão importante ao entendimento quanto normalmente se supõe. Não precisamos saber tudo sobre determinada coisa para que possamos entendê-la. Uma montanha de fatos pode provocar o efeito contrário, isto é, pode servir de obstáculo ao entendimento. Há uma sensação, hoje em dia, de que temos acesso a muitos fatos, mas não necessariamente ao entendimento desses fatos.
Uma das causas dessa situação é que a própria mídia é projetada para tornar o pensamento algo desnecessário - embora, é claro, isso seja apenas mera impressão. O ato de empacotar ideias e opiniões intelectuais é uma atividade à qual algumas das mentes mais brilhantes se dedicam com grande diligência. O telespectador, o ouvinte, o leitor de revistas - todos eles se defrontam com um amálgama de elementos complexos, desde discursos retóricos minuciosamente planejados até dados estatísticos cuidadosamente selecionados, cujo objetivo é facilitar o ato de "formar a opinião" das pessoas com esforço e dificuldade mínimos. Por vezes, no entanto, o empacotamento é feito de maneira tão eficiente, tão condensada, que o telespectador, o ouvinte ou o leitor não conseguem formar sua opinião. Em vez disso, a opinião empacotada é introjetada em sua mente mais ou menos como uma gravação é inserida no aparelho de som. No momento apropriado, aperta-se o play e a opinião é "tocada". Eles reproduzem a opinião sem terem pensado a respeito.