
@ TAnOTaTU
2025-05-21 10:59:26
**Resposta marxista sobre o fim das Forças Armadas na América Latina e no Brasil**
A questão das Forças Armadas na América Latina e no Brasil, sob uma perspectiva marxista, não pode ser abordada de forma simplificada como um mero "acabar com o Exército". A teoria marxista entende que as instituições militares são parte estrutural do **Estado burguês**, cuja função histórica é garantir a dominação de classe e a reprodução do capitalismo. Portanto, a resposta depende de uma análise concreta da realidade histórica, política e social, bem como do projeto revolucionário para além o capitalismo.
---
### **1. O Estado e o papel repressivo das Forças Armadas**
Para Marx e Engels, o Estado é um instrumento de **dominação de classe**, cujo aparato repressivo (polícia, exército, judiciário) serve para manter a ordem capitalista. As Forças Armadas, nesse contexto, são uma força ideológica e material que garante a **sobrevida da burguesia** frente às lutas populares. Na América Latina e no Brasil, essa função se manifestou claramente em momentos históricos, como:
- **O golpe de 1964 no Brasil**, que depôs o governo democraticamente eleito de João Goulart e instaurou uma ditadura militar que torturou, matou e reprimiu movimentos sociais, camponeses e operários.
- **Intervenções militares na América Latina** apoiadas pelos EUA, como no Chile (1973), Argentina (1976) e Uruguai, onde as Forças Armadas serviram como agentes de regimes fascistas voltados à destruição de qualquer projeto emancipatório.
Assim, as Forças Armadas não são "neutras": estão historicamente vinculadas à defesa dos interesses das elites econômicas e da propriedade privada. Acabando com elas sem uma transformação revolucionária do Estado, correr-se-ia o risco de criar um vácuo que poderia ser ocupado por novas formas de repressão ou por grupos paramilitares ligados ao capital.
---
### **2. O Comunismo e a superação do Estado**
Marx, na *Crítica ao Programa de Gotha*, e Engels, em *A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado*, argumentam que, na transição para o comunismo, o Estado **não será abolido imediatamente**, mas se transformará em um órgão de administração coletiva, perdendo seu caráter repressivo. Isso implica:
- **Dissolução do Estado burguês**: As Forças Armadas, como parte desse Estado, seriam desmontadas e substituídas por uma **milícia popular armada**, como ocorreu durante a Comuna de Paris (1871), referência central para o marxismo.
- **Democratização e controle social**: O povo, organizado em conselhos operários e populares, assumiria o controle das funções de defesa e segurança, eliminando a separação entre governantes e governados.
No entanto, enquanto o mundo for dividido em classes e existirem Estados nacionais, mesmo em uma sociedade socialista, haverá necessidade de defesa contra ameaças externas (como invasões imperialistas) e internas (como tentativas de golpe por forças contrarrevolucionárias).
---
### **3. A realidade da América Latina e do Brasil**
Na América Latina, as Forças Armadas são frequentemente instrumentos do **imperialismo** e da **burguesia local**, reprimindo movimentos de libertação nacional e social. No Brasil, mesmo após o fim da ditadura (1985), o Exército mantém influência política e tecnológica (como o controle de áreas estratégicas e o programa nuclear), além de atuar em operações de "paz" que, muitas vezes, reprimem comunidades periféricas e indígenas.
Um projeto marxista teria de considerar:
- **O desarmamento das elites**: O poder militar não está apenas nas Forças Armadas, mas também em grupos paramilitares, milícias urbanas e na polícia, que atuam como guardas pretorianas do capital.
- **A relação com o imperialismo**: Países como o Brasil são alvo de intervenções externas (exemplo: tentativa de golpe na Bolívia em 2019, com apoio de setores militares). Um Estado socialista precisaria de uma defesa popular para resistir à pressão imperialista.
- **A experiência histórica do PCB e da esquerda brasileira**: Partidos marxistas no Brasil, como o PCB nos anos 1920-30 e 1960-70, sempre criticaram o papel reacionário do Exército, mas não propuseram sua extinção sem uma alternativa popular armada.
---
### **4. Transição revolucionária: como mudar?**
O marxismo não propõe soluções reformistas. Para transformar as Forças Armadas, seria necessário:
- **Uma revolução socialista**: Que desmonte o Estado burguês e construa uma nova ordem baseada nos **conselhos populares** e na **expropriação dos meios de produção**.
- **Transformação das Forças Armadas em milícias populares**: Soldados e oficiais dissidentes poderiam integrar uma defesa popular, enquanto os setores reacionários seriam neutralizados ou dissolvidos.
- **Internacionalismo proletário**: A superação do Estado-nação e do militarismo só será plena no contexto de uma **revolução mundial**, eliminando as causas estruturais da guerra e da repressão.
---
### **5. Conclusão: Acabar com o Exército burguês, não com a defesa popular**
A resposta marxista não é "acabar com as Forças Armadas" de forma abstrata, mas **desmontar seu papel de classe** e reconstruí-las como instrumentos de defesa do povo trabalhador. Na América Latina e no Brasil, isso exigiria:
1. **Desmantelamento do Estado burguês** e sua substituição por uma ditadura do proletariado (democracia radical dos trabalhadores).
2. **Criação de milícias populares** para substituir o Exército profissional.
3. **Luta contra o imperialismo**, garantindo soberania sem repressão interna.
Enquanto o capitalismo existir, as Forças Armadas continuarão sendo um instrumento de dominação. Só a revolução socialista pode transformá-las em ferramentas de emancipação — e, no futuro comunista, torná-las obsoletas.