
@ Tiago G
2025-02-20 23:17:29
Quando estava prestes a entrar para a universidade sentia que a minha vida estava a desenrolar-se plenamente de acordo com os conselhos que havia recebido. Estava focado nos estudos e com a esperança de que esse foco me garantisse um bom trabalho. Com efeito, os estudos abriram algumas portas, no entanto, não posso deixar de assinalar que há outras decisões mais importantes a tomar e que não tiveram o mesmo protagonismo na minha vida.
Nessa mesma altura estava a iniciar um relacionamento amoroso, sem ter clara a finalidade desse namoro e o caminho que o mesmo deveria ter seguido. Talvez até me tivessem aconselhado sobre isso, contudo o foco estava mais no trabalho e em usufruir das oportunidades que se apresentaram nessa juventude confortável, na qual contei sempre com o apoio financeiro dos meus pais. Estava, como a maioria à minha volta, a viver uma vida libertina. Quer isto dizer uma vida sem grandes preocupações, a não ser estudar e fazer o suficiente para não reprovar a nenhuma disciplina. O resto é movido muito mais para emoção do que pela razão. Aquilo que considerava prazeroso era bom e o que não o era, era mau. Não tinha propriamente uma ideia clara do que queria criar a longo prazo e portanto estava muito mais focado no presente e em usufruir daquilo que podia no momento.
Fazendo uma análise retrospetiva de tudo, não culpo ninguém porque a informação existe para quem a procura, contudo noto aqui apenas o ambiente social e cultural que favorece determinadas decisões em detrimento de outras. O foco tem estado muito mais nos estudos, no trabalho e na fruição dos prazeres que se apresentam aos jovens sem que se pense demasiado no futuro.
Neste contexto, e vendo esta fase da vida com outro grau de distanciamento, deixo aqui dez conselhos que julgo essenciais.
*Rei Salomão - Gustav Dore*
***1.Focar na decisão mais importante: constituir ou não família.***
A decisão de constituir ou não família é muito mais relevante para a nossa vida do que propriamente a de escolher uma profissão. Não estou necessariamente a fazer apologia de que todas as pessoas devem constituir família, convenhamos que muitos de nós não têm vocação para o mesmo (apesar de muitos ainda assim o fazerem), mas quer seja afirmativa ou negativa a resposta parece-me fundamental que nos concentremos nessa decisão. Muito mais do que qualquer profissão a família é onde naturalmente procuramos apoio, conforto e incentivo perante todas as vicissitudes da vida.
O facto de existirem famílias que não são fontes de amor para as pessoas em nada invalida que esta seja a organização social por excelência que aporta significado ás nossas vidas. Infelizmente, para muitas pessoas uma experiência pessoal mais difícil a este nível influi na forma como pensam sobre a possibilidade de criarem a sua própria família.
Algumas questões a ter em conta nesta ponderação:
Qual é o meu ideal de família ?
Qual o meu papel enquanto homem/mulher no seio da família?
Que tipo de parceiro devo procurar?
Desejo ter filhos ?
Podemos usar estas questões como pontos de partida para iniciar uma exploração da nossa vocação.
***2.Tomar decisões cedo em vez de protelar indefinidamente***
Atualmente notamos que as pessoas constituem família cada vez mais tarde e que têm filhos cada vez mais tarde. É curioso notar que nos relacionamentos por vezes há alguma pressa para passar do conhecer a pessoa à intimidade sexual e não há pressa alguma para decidir se de facto é com aquela pessoa que queremos passar o resto dos nossos dias.
Este é apenas um aspecto no qual se nota uma progressiva detioração da capacidade para decidir. É-nos muitas vezes transmitida a ideia de que temos tempo e de que não há uma idade certa para tomar determinadas decisões. Estes discursos são cínicos pois é evidente que há fases que são mais propícias para dar determinados passos na nossa vida, daí que seja muito importante aprender a tomar decisões cedo.
Para tomar decisões sóbrias é fundamental saber-se exatamente aquilo que queremos. Se tudo isso está indefinido e não conseguimos postular uma ideia de futuro para nós será muito mais difícil tomar qualquer tipo de decisão importante. Um outro aspecto a ter em conta é o de que as principais decisões são guiadas pela razão, isto é os nossos sentimentos têm de estar ao serviço dos nossos valores e nunca o contrário.
*3.Se não te imaginas a casar com a pessoa com quem estás, termina o relacionamento.*
Deixar a porta aberta num relacionamento de forma indefinida é algo que vai produzir instabilidade no longo prazo. É óbvio que para muitas pessoas o casamento é “apenas um papel” e portanto não vêm a real utilidade em se casar. Contudo, e de forma não surpreendente, notamos que os casais que têm na sua vida uma visão sobrenatural do casamento tendem a perdurar. Digamos que a cola que é usada para unir as pessoas é de um outro calibre, enquanto que a cola usada por aqueles que não têm Deus nas suas vidas está muito mais sujeita à volatilidade do tempo, dos apetites individuais e do relativismo.
*4.Assume a responsabilidade pelos teus erros sem te deixar levar pelo vitimismo.*
A cultura atual, influenciada de forma determinante pela filosofia marxista, está permanentemente a postular divisões de poder na sociedade que pressupõe duas categorias principais a de oprimido e opressor. Esta ideologia apoiada no revisionismo histórico e numa pedagogia social falaciosa incute desde cedo na população a ideia de que em algum momento, tendo ou não pertencido a uma minoria, somos vítimas. Vemos vários exemplos e derivações desta doutrina quando tocamos em temas como o feminismo, o racismo e outros ismos que se focam apenas nesta divisão dicotómica oprimido e opressor.
Esta narrativa esquece que a hierarquia é uma organização natural que define aptidões diferenciadas e consequentemente vocações diferentes. Um outro aspecto que também é esquecido é o livre arbítrio, isto é, a ideia de que as pessoas têm poder de decisão e que muitas vezes podem ser coniventes e partes atuantes no sistema em que participam.
Quer isto dizer que individualmente cada um de nós, havendo discernimento, tem escolha e portanto é muito mais produtivo focar a nossa atenção nesse aspecto do que em qualquer tipo de desigualdade que possa existir. A igualdade de circunstâncias para todas as pessoas é uma utopia, a única igualdade que existe é da essência humana.
O caminho para escapar ao vitimismo será sempre o da responsabilidade individual e da gratidão apesar das circunstâncias adversas que possamos estar a viver.
*5.Foca-te primeiro no que te é mais próximo antes do mundo*
Por vezes, inspirados por uma soberba intelectual que agora é típica da juventude vemo-nos a fazer o papel de ativistas em determinadas causas, algumas nobres outras nem tanto. Acontece que este ativismo é frequentemente uma ato postiço, uma pose que usamos como forma de sinalizar a nossa virtude perante os nossos pares. Onde se percebem os pés de barro é quando notamos que diante das pessoas que nos são mais próximas não temos o mesmo zelo que apresentamos quando estamos a debater as grandes questões do mundo.
Há que ser zeloso com quem nos rodeia e os problemas mais urgentes para resolver, e aqueles em que a nossa intervenção é de facto mais necessária, são os que nos são mais próximos.
*6.Dizer a verdade*
A corrupção moral funciona de forma gradual, vai de menos a mais, começamos com uma coisa pequena até chegarmos a algo maior. Quando somos mais novos vamos experimentando a corrupção através do exercício da mentira em pequenas coisas e gradualmente vamos avançando para as coisas maiores. Alguns de nós resistem à mentira, facilmente se entende que não desejamos que os outros nos mintam no entanto, se o repetimos muitas vezes facilmente a banalizamos.
A mentira é uma tentativa de esquivar a responsabilidade pelas nossas ações ou opiniões, uma tentativa de fuga ás consequências. Contudo, importa perceber que inevitavelmente vamos sempre confrontar-nos com as consequências sejam quais forem as circunstâncias. Se não as experimentamos pela espada dos outros será pela nossa própria espada quando finalmente percebermos que não há harmonia entre o pensamento e a ação, que dizemos uma coisa mas fazemos outra, que a nossa identidade é também ela uma ficção. O exercício da verdade será a única via para nos aproximarmos de uma existência mais harmoniosa e autêntica, a única forma de estabelecer uma relação genuína com os outros.
*7.Decisões inspiradas pela coragem e menos pelo medo*
As nossas decisões têm frequentemente como força motriz o medo. O medo da rejeição impede-nos de ir falar com aquela pessoa de quem gostamos, o medo do juízo social impede-nos de proferir a nossa opinião em determinado assunto, o medo da morte leva-nos a ter comportamentos obsessivos com a nossa saúde; enfim, são muitas as situações em que as nossas decisões são pautadas pelo medo.
É importante que cada vez mais, o medo não seja o factor definidor da nossa decisão. A coragem, temperada pela prudência, devem ser os grandes arquitetos da nossa decisão. Aquilo que é bom no sentido mais profundo é o que devemos seguir, independentemente de sentirmos medo.
*8.Ninguém é obrigado a gostar de nós, ninguém nos deve nada*
O ressentimento e mágoa leva-nos por vezes a tratar os outros como se eles nos devessem algo, como se fosse impensável não nos reconhecerem como aprazíveis aos seus olhos ou justos. Isto é uma forma subtil do orgulho se expressar, porque mais uma vez nos colocamos na posição de vítima e assim, julgamos que os outros nos deveriam reconhecer como virtuosos de alguma forma.
Pois bem, apesar dos outros, tal como nós, terem deveres e poderem fazer menção honrosa da nossa existência não devemos esperar isso. Esperando isso, acabamos escravizados por essas expectativas porque continuamos à espera que gostem de nós. Desta forma distorcemos também o próprio conceito de amor, que é doar-se sem esperar em troca. Não é que os outros não o possam fazer, podem, o problema está na espera e na exigência.
*9.Definir uma matriz moral objetiva*
Imbuídos de um espírito relativista estamos muitas vezes sujeitos a uma subjetividade enorme no que diz respeito aos nossos valores. O resultado disto é que inevitavelmente vamos ter uma definição menos clara do bem e do mal. Frequentemente vamos confundir o que é bom ou mau com os nossos desejos, alimentado pelos nossos vícios. Para termos uma visão mais clara da realidade é fundamental sairmos dessa visão subjetiva do valor e sermos capazes de procurar a verdadeira fonte das definições morais.
Aqui, há determinadas mensagens sociais que nos confundem os sentidos, nomeadamente aquelas que atestam que tudo são apenas “pontos de vista”, que não há uma “verdade” mas sim várias verdades, e que “neste tempo/cultura/país” a moralidade é outra. São tudo asserções que dificultam esta pesquisa pela verdade e definição moral universal. Neste campo, o ser humano só será capaz de ter mais estabilidade em termos psicológicos aderindo a um sistema de valores imutável, esta é a única forma de basear a sua identidade em princípios mais objetivos.
*10.Encontrar um propósito maior para a vida*
Santo Agostinho diz-nos o seguinte:
- Se não queres sofrer não ames, mas se não amas para que queres viver?
Santo Agostinho
Por vezes na nossa vida procuramos esquivar-nos do sofrimento e inclusive somos vitimas de um certo ceticismo e embotamento afetivo. Vamos experimentando a traição e a frustração das nossas expectativas e isso vai endurecendo o nosso coração. Em resultado disso, muitas vezes tornamo-nos também mais egoístas, focados na mera satisfação das nossas necessidades e menos nas dos outros. No entanto, isto faz de nós infelizes porque não conseguimos deixar de amar. A solução é encontrar algo maior que nós mesmos para amar, entendendo sempre que a essência do amor é o sacrifício. Encontrar isso é simultaneamente definir um propósito para a vida e daí derivar um significado que nos sustenta até nos momentos mais difíceis.
Eventualmente poderei fazer alguma publicação específica expandindo um pouco mais alguns destes conselhos, uma vez que observo que muito mais poderia ter sido dito em cada um deles. Talvez venha a criar mais algumas publicações sobre este tema.